Páginas

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Podemos sublimar as relações sexuais no Yoga?

Hoje em uma das minhas aulas, apareceu somente uma aluna e ela se sentiu livre para sanar algumas dúvidas e uma das perguntas que ela me fez foi: 

  

 "Que tipo de asana ou pranayama podemos fazer para sublimar o sexo? 


Fiquei pensando se isso realmente é possível...

É certo que quando praticamos yoga , passamos a ter uma percepção diferente com nosso corpo e percebemos que uma relação sexual é muito
mais importante do que a banalização que vemostão comumente hoje...aprendemos também que com a abstinencia sexual, ganhamos uma espécie de "superpoder",

Aí pensei no tantrismo e como muitos o confundem com yoga do sexo, pensei também em vários casos de gurus que acabam abusando, ou melhor seduzindo  alunos com alguma desculpa descabida e pensei nos chakras, pois esses maravilhosos pontos energéticos realmente mexem conosco....aí pensei que quando nos sentimos melhor acabamos melhorando também as relações sexuais...


Conversamos um pouco e acabamos fazendo uma respiração com as tres travas, mas na verdade não soube responder perfeitamente a dúvida dela e ai  fui atrás e achei os seguintes significados nos artigos abaixo:


P: Como podemos sublimar a relação sexual?
Minha resposta foi,  com muito amor e a presença de Deus (Divino).
mas ela não ficou muito satisfeita, então fui pesquisar.....

No dicionário Sublimar: 
Tornar sublime; exaltar, engrandecer: a arte permite sublimar as paixões.
Figurativo: Purificar, expurgar de toda imperfeição ou impureza: sublimar os sentimentos.Química:  Fazer passar diretamente do estado sólido ao estado gasoso.Psicanálise Realizar a sublimação.

Sinônimo de sublimar: aperfeiçoar, aprimorar, apurar, elevar e requinta
r


E achei alguns artigos com pensamentos divergentes, leia e veja com qual deles ou se você se identifica. 

Sobre a Sublimação da Libido Sexual

 Osho  Artigo retirado de livro do Osho: "Psicologia do Esotérico"

Segue um Resumo do artigo abaixo:

A energia da vida é uma, mas ela pode manifestar-se em muitas direções. 
O sexo é uma delas. 
Quando a energia da vida torna-se biológica, torna-se energia sexual.
O sexo é apenas uma aplicação da energia da vida. 
Assim, não há a questão da sublimação.
Sexo é o fluxo natural, biológico, da energia da vida e a aplicação mais baixa dela. É natural porque a vida (orgânica) não pode existir sem ela, e a mais baixa porque é a fundação, a base, não o cume.
Não há necessidade de sublimação, porque a energia como tal, não é nem sexual, nem espiritual. A energia é sempre neutra. Em si mesma, ela é inominada. O nome não é o nome da energia em si; é o nome da forma que a energia toma. Quando você diz que a energia é sexual, significa que a energia flui através de uma saída sexual, através de uma saída biológica.
A energia em si é neutra. Quando é expressa biologicamente é sexo; expressa emocionalmente pode tornar-se amor, pode tornar-se ódio, pode tornar-se raiva; quando se expressa intelectualmente, pode tornar-se científica, pode tornar-se literária; quando se move pelo corpo, pode tornar-se física; quando se move pela mente, se transforma em mental. As diferenças não são diferenças da energia como tal, mas das manifestações aplicadas dela.
Assim, não é correto dizer: sublimação da energia sexual. Se a saída sexual, a saída do sexo não é usada, ela torna-se energia pura de novo. A energia é sempre pura. Quando se manifesta através da porta divina, torna-se espiritual, mas a forma é apenas uma manifestação da energia.
A palavra sublimação tem associações muito ruins. Todas as teorias de sublimação são teorias de repressão. Sempre que você diz sublimação do sexo, você se torna antagônico a ele. Sua condenação está lá, na própria palavra.
Você pergunta o que o indivíduo pode fazer com relação ao sexo. Qualquer coisa feita diretamente ao sexo é uma repressão. Há somente métodos indiretos com os quais você não se relaciona de forma alguma com a energia sexual, ao invés disto, você busca abrir a porta ao divino. Quando a porta ao Divino se abre, todas as energias que estão em você começam a fluir em direção a essa porta. O sexo é absorvido. Sempre que um deleite mais alto torna-se possível, as formas mais baixas de prazer tornam-se irrelevantes. Você não deve reprimi-los ou lutar contra elas. Elas apenas murcham. 
O sexo não é sublimado; é transcendido.
Qualquer coisa feita negativamente com o sexo, não transformará a energia. 
Ao contrário, criará um conflito dentro de você que será destrutivo. 
Quando você luta contra uma energia, você luta contra você mesmo. Ninguém pode ganhar a luta. Num momento você sentirá que venceu. Isso acontecerá continuamente. Às vezes não haverá sexo e você sentirá que o controlou e no momento seguinte sentira o impulso do sexo de novo e tudo que você parecia ter ganhado será perdido. Ninguém pode vencer uma luta contra a sua própria energia.
Se as suas energias são necessárias em algum outro lugar, em algum lugar mais deleitoso, o sexo desaparecerá. Não que a energia esteja sublimada. Não que você tenha feito algo. Ao contrário, um novo caminho em direção a deleite maior abriu-se para você e automaticamente, espontaneamente, a energia começa a fluir em direção à nova porta.
Se você estiver segurando pedras e subitamente diamantes aparecerem no seu caminho, você nem sequer perceberá que jogou as pedras no chão. Elas cairão por elas mesmas, como se você nunca as houvesse possuído. Você nem mesmo se lembrará de haver renunciado a elas e de havê-las jogado fora. Você nem mesmo perceberá isso. Não que algo tenha sido sublimado. Uma fonte maior de felicidade abriu-se e as fontes inferiores caíram por si mesmas.
Isto é tão automático, tão espontâneo, que nenhuma ação positiva contra o sexo é necessária. Sempre que você faz algo contra qualquer energia, é negativo. A ação real e positiva não está nem mesmo conectada com o sexo, concerne à meditação. Você nem mesmo saberá que o sexo se foi. Ele foi simplesmente absorvido pelo novo.
Sublimação é uma palavra feia. Carrega um tom de antagonismo, de conflito nela. O sexo deveria ser encarado pelo que é. É apenas o alicerce biológico para a vida existir. Não lhe dê qualquer significado espiritual ou antiespiritual. Simplesmente entenda-o como o fato que é.
Não crie nenhuma filosofia em torno do sexo. Apenas veja os fatos. Não faça qualquer coisa a favor ou contra, deixe-o ser como é; aceite-o como normal. Não tome nenhuma atitude anormal em relação a ele.

Assim como você tem olhos e mãos, também você tem sexo. Você não é contra os seus olhos ou suas mãos. Não seja contra o sexo. Então, a questão do que fazer com relação ao sexo torna-se irrelevante. Criar uma dicotomia a favor ou contra o sexo é sem sentido. É um fato dado. Você veio à existência através do sexo. E você tem um programa esquematizado para novamente dar nascimento através do sexo. Você parte de uma grande continuidade. Seu corpo vai morrer. Ele tem um programa estabelecido para criar outro corpo para substituí-lo.

A morte é certa. Eis porque o sexo é tão obcecante. Você não estará aqui para sempre, assim você terá que substituí-lo por um corpo mais novo, uma réplica. O sexo é tão importante, porque toda a natureza insiste nele; caso contrário, não haveria ninguém na Terra. O sexo é tão obcecante, tão compulsivo, o impulso sexual é tão intenso, porque toda a natureza é a favor dele. Sem ele, a vida (orgânica) não pode existir.

A razão porque o sexo é tão importante para os buscadores religiosos, é porque ele é tão involuntário, tão compulsivo, tão natural. Tornou-se um critério para saber se a energia da vida numa dada pessoa alcançou o divino. Não podemos saber diretamente se alguém encontrou o divino - não podemos saber diretamente se alguém possui diamantes - mas podemos saber diretamente se alguém jogou fora as pedras, porque estamos familiarizados com as pedras. Podemos saber diretamente que alguém transcendeu ao sexo, porque estamos familiarizados com o sexo.

O sexo é tão compulsivo, tão involuntário, uma força tão grande, que não pode ser transcendido até que alguém tenha atingido o divino. Assim, bramacharya tornou-se um critério para saber se a pessoa alcançou o divino. Então o sexo, tal como existe nos seres normais, não existirá para ela.

Isto não significa que por abandonar o sexo, alguém atingirá o divino. O reverso é uma falácia. A pessoa que encontrou diamantes joga fora as pedras que estava carregando, mas o reverso disto não é verdadeiro. Você pode jogar fora as pedras, mas isto não significa que você tenha alcançado algo além delas.

Então você estará num meio-termo. Você terá uma mente reprimida, não uma mente transcendente. O sexo continuará a borbulhar dentro de você e criará um inferno interior. Isto não é ir além do sexo. Quando o sexo torna-se reprimido, torna-se feio, doentio, neurótico. Torna-se pervertido.

A assim chamada atitude religiosa com relação ao sexo criou uma sexualidade pervertida, uma cultura que é completamente neurótica sexualmente. Eu não sou a favor dela. Sexo é um fato biológico; não há nada errado nele. Assim, não o combata ou ele se tornará pervertido, e o sexo pervertido não é um passo para a frente. É uma queda para baixo da normalidade; é um passo em direção à insanidade. Quando a repressão torna-se tão intensa que você não pode prolongá-la, então ela explode - e nessa explosão, você se perderá.

Você é todas as qualidades humanas, você é todas as possibilidades. O normal fato do sexo é sadio, mas quando se torna anormalmente reprimido, torna-se insano. Você pode caminhar em direção ao divino desde o normal muito facilmente, mas caminhar para o divino desde uma mente neurótica torna-se árduo, e de certa forma, impossível. Primeiro você terá que se tornar sadio, normal; então, no final, há possibilidade do sexo ser transcendido.
Osho - (Psicologia do Esotérico - Ed. Ícone)

BRAHMACHARYA: A Moderação
Maria Giovana Pegorer
Introdução
A pesquisa desenvolvida a seguir tem como escopo um melhor entendimento do quarto yama de Pátañjali:brahmacharya.
Serão abordados aspectos referentes à conceituação e significado do termo, bem como a importância de sua prática nos dias de hoje, dentro do contexto da filosofia do Yoga.
Ainda nos dias atuais a sexualidade é tabu, tratado pela maior parte dos religiosos como algo abominável e abordado pelos hedonistas sem a seriedade que o assunto merece. Daí a importância de estudarmos o assunto não apegados a preconceitos e com a ponderação que ele merece.

O que é Brahmacharya?
O termo brahmacharya é uma palavra sânscrita e tem como tradução literal “pastar em Brahma” ou ainda: “Brahman é o Mestre ou Senhor”. Refere-se principalmente ao celibato ou abstenção sexual, tanto no sistema de Yoga quanto no Bramanismo em geral, se relacionando também ao levar uma vida pura e isenta de promiscuidades, em desapego à vida material e voltada à prática (ao sádhana).
Temos ainda a definição: Brahma = Deus e chara = se mover. Logo, o termo significa “se mover em direção a Deus ou viver em Deus”.
É uma prática considerada purificadora e espiritualizante e uma forma de compreensão libertadora, que nos libera das muitas formas de manifestação do desejo, sejam eles sexuais ou não. Em outras palavras, trata-se de uma prática que conduz à liberdade, ao Nirvana.
Esse conceito é um dos mais poderosos do mundo yogue, tendo-se em vista a ilusão do prazer sensorial e à força da natureza voltada à perpetuação da espécie que permeia, em maior ou menor grau, todos os seres vivos.
Castidade / Celibato: Algumas Definições
A título de complementação, segundo o dicionário Aurélio, castidade é um termo de origem latina (castitate) e significa a abstinência total dos prazeres sensuais. Já o termo celibato (do latim caelibatu) corresponde ao estado de uma pessoa que se mantém solteira.
A castidade pode ser dividida em duas categorias, a saber: espontânea e forçada.
A castidade espontânea é aquela alcançada por pessoas que dedicam pouco ou nada de sua energia vital para a área da sexualidade, pois já conseguiram superar a necessidade que a maioria ainda experimenta da prática do sexo físico.
Já a castidade forçada é praticada por indivíduos que se obrigam à castidade, pois isto ainda não é natural a eles, por isso mesmo tendo resultados duvidosos, pois a verdadeira sublimação do sexo deve provir de compreensão, e não de repressão.
A energia sexual é uma força incomensurável e não deve ser sublimada abruptamente, como aconselham alguns religiosos radicais, tampouco ser liberada sem controle ou disciplina.

 Indicações do Yoga sobre Sexo

Um dos objetivos do yoga é cultivar a harmonia entre os pensamentos, sentimentos e ações em todos os aspectos da vida – e isso obviamente se estende à sexualidade. Duas palavras resumem bem esse ensinamento: pureza e moderação, que por sua vez implicam, fisiologicamente, em higiene pessoal, o que abrange a higiene dos órgãos sexuais e a preservação de suas funções naturais, proporcionando uma vida saudável e longa.

Cabe salientar que, embora o yoga místico ou teórico proponha a sublimação dos instintos sexuais, o yogacientífico não permite que haja negligência na higiene e cuidado dos órgãos genitais.
A filosofia do yoga nos ensina que, mesmo não tendo atingido o ideal da castidade, “nós mortais” podemos também obter mais energia e vitalidade através da pureza e da moderação sexual.

Yoga e Brahmacharya
Rája Yoga adota o princípio de que a energia do ser humano é única, ou seja, não existe uma energia para a atividade sexual e outra, separada, para o exercício espiritual.
Mahatma Gandhi quis endossar a teoria clássica do Rája Yoga, segundo o qual o homem dispõe só de uma força (ojas), que pode ser empregada tanto em atividades sexuais (seja em ações ou em pensamentos), como no processo de evolução espiritual. Como a quantidade de forças ou energia do ser humano é limitada, deduz-se que quanto mais essa força for empregada no campo sexual, tanto menos far-se-á no campo espiritual, ou mesmo em outras atividades, como o exercício da afetividade, as atividades intelectuais e os trabalhos físicos.
O próprio Gandhi atingiu o ideal da castidade depois de muitos anos de aperfeiçoamento interior. No entanto, compreendendo que a maioria ainda não tinha condições físicas nem psíquicas para viver essa realidade, ele admitia o exercício da sexualidade apenas com a finalidade reprodutiva. Não aceitava como ética a idéia da procura do prazer sexual. Observa-se que esse parâmetro gandhiano é algo ainda muito acima da média humana de nossa época.
De outra forma, uma canalização adequada dessas energias sexuais resultaria em vitalidade permanente. Nesse contexto, Brahmacharya nos mostra o poder de transmudar a libido em poder espiritual (Ojas Shakti).
Brahmacharya é um das bases para a prática do Yoga, pois se a mente flutua sem controle sobre as relações de apego e aversão, o abismo entre matéria e espiritualidade se torna maior.
Como disse Patáñjali Rishi: “Brahmacharyapratishthayam viryalabhah” ou: “Aquele que observa a continência, se ilumina e conquista vários siddhis (perfeição ou poderes paranormais)”.
Dessa forma, o (a) yogin (i) deve praticar a continência, ou controle dos sentidos, não se deixando dominar por eles. O objetivo maior é a busca da espiritualidade, em todos os momentos da existência, e para que isto seja alcançado, é necessário o domínio dos sentidos.
Muitas vezes o termo brahmacharya é mal interpretado como sendo unicamente relacionado à sexualidade, quando na realidade está relacionado a todas as formas de desejo, os quais norteiam os sentidos. E o termo desejo se refere a todas as formas de desejo – não só a sexual. Ou seja, a prática de brahmacharya está relacionada à moderação ou equilíbrio, tanto no que se refere à esfera sexual, quanto ao que tange ao apetite, ao falar, ao pensar, etc. O praticante/estudioso de yoga deve ser moderado em pensamentos, palavras e ações, de forma que haja comedimento em todos os aspectos de sua vida.
Assim, deve haver no praticante uma busca constante da compreensão dos aspectos emocionais relacionados aos seus atos, e a análise constante para verficar o porquê e em quais situações sente apego, aversão ou neutralidade no seu dia-a-dia. Essa observação continuada resulta num maior autoconhecimento, auto-estudo ou autognose, que por sua vez se trata de um niyama – swadhyaya, o qual será abordado em pesquisa posterior.
A prática constante e disciplinada (abhyasa) de brahmacharya por parte do(a) yogin(i) leva à conquista dedhárana (concentração) e dhyana (meditação).
  E essa prática não se restringe a monges enclausurados em mosteiros, podendo ser observada por pessoas que têm uma vida social, digamos, mais “convencional”, e não significa a total ausência de relações físicas ou da satisfação de outros desejos corporais, mas um disciplinado controle para que não se torne uma obsessão, um vício. Como o objetivo do yoga é justamente controlar os fatores que causam perturbação e instabilidades da mente (chitta vritthis), a prática desse yama só tem a acrescentar no que tange ao desenvolvimento do(a) yogin(i).
Brahmacharya e Tantrismo / Maithuna
O tantrismo representa, por assim dizer, uma forma diferente (e filosófica) de entender a sexualidade – pelo menos para nós, ocidentais.
A palavra tantra vem da raiz verbal sânscrita tantr, que significa "controlar, manter sob disciplina". Yoga deriva da raiz verbal yuj, significando "unir, direcionar, atar", entre outras acepções. Portanto, o Tantra Yoga é um sistema que leva o indivíduo a governar e controlar a si mesmo. Além do Yoga, há outras maneiras de levar o praticante a isso, como por exemplo, estudando o Vedanta.
Por vezes, o assunto tantra é confundido erroneamente com o “Yoga do Sexo”, o que não corresponde à realidade. Nas escrituras tântricas são apresentados muitos rituais, onde há muita beleza e santidade. Por exemplo: o maithuna é a união sexual ritualística de um casal de praticantes (sádhakas), que são aspirantes espirituais.
Durante a referida prática, a união sexual é tratada com pureza e sublimidade, e cada cônjuge se une em castidade no ser do outro, de forma transcendental e genuína, nada tendo de egoísmo e promiscuidade - características comuns de uma sexualidade não saudável e que gera desarmonia. Na preparação para a prática, o casal pratica austera disciplina espiritual e a união carnal não culmina com a ejaculação, quando a energia seminal é canalizada para um nível energético mais sutil. Percebe-se que é um ritual complexo, mostrando elevado autocontrole e pureza espiritual dos praticantes.

Brahmacharya na Visão de Sivananda
Para o Mestre Sri Swami Sivananda, esse yama não inclui somente a estrita abstinência do intercurso sexual, mas também de outras manifestações sexuais, como manifestações auto-eróticas, onanismo, relações homosexuais e práticas sexuais perversas. Ou seja, a prática desse yama inclui também a abstenção da imaginação erótica e pensamentos, conversas ou atos voluptuosos. Ou ainda, nas próprias palavras de Sivananda: “Brahmacharya é a liberdade absoluta dos pensamentos e desejos sexuais. É o voto de celibato. É o controle de todos os sentimentos em pensamentos, palavras e ações.”
Ainda nas palavras de Sivananda: “O celibato está para o yogi como a eletricidade está para o fio”. Segundo ele, o verdadeiro progresso espiritual não é possível sem a prática do celibato, sendo a única chave para abrir o canal sushumna (o principal canal astral do corpo humano e que está localizado na espinha dorsal) e despertar a kundaliní (a energia cósmica primordial localizada em cada ser). Através do verdadeiro celibato cultiva-seBhakti (devoção), a prática do yoga e se adquire o conhecimento (Jñana). Segundo esse sábio, não pode haver saúde e vida espiritual sem o celibato.

A Utilização da Energia Vital
Conta-se que um estudante de Ayurveda (ciência de medicina indiana ancestral) se aproximou de seu professor ao final do curso e lhe perguntou qual era o segredo da saúde, sendo que o Mestre lhe respondeu: “A energia seminal é verdadeiramente a alma (Atman) e o segredo da saúde está na preservação dessa força vital. Quem desperdiça essa preciosa e vital energia não pode ter desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual”.
Assim como este, alguns sábios acreditam que a energia seminal (Veerya) é Deus em movimento, dinâmico; é a força da alma, encerrando a vida, a inteligência e a consciência.
Acreditam ainda que o excitamento sexual causa conseqüências deletérias no organismo, pois quandoVeerya é desperdiçado, o Prana (energia vital) se torna instável, o corpo e a mente perdem energia para o estudo e o trabalho, havendo letargia física e mental, o que resulta em fraqueza e exaustão. O desperdício da energia vital representada no sêmen levaria a comprometimento da memória, envelhecimento precoce e vários tipos de enfermidades.
E para as mulheres os efeitos da sexualidade desregrada seriam tão maléficos quanto para os homens, tendo em vista que o seu sistema é mais frágil e delicado, resultando em perda da vitalidade e enfermidades.
Gandhi aconselhava as mulheres a se libertarem do estigma de objeto da concupiscência dos homens – o que, geralmente, está mais nas mãos delas do que nas deles.
Segundo a Dra. indiana Sitadevi Yogendra, em seu livro intitulado “Yoga Simplificada para a Mulher”, atualmente o erotismo é propagado de uma maneira perniciosa à saúde, e as maiores vítimas seriam justamente as mulheres, por apresentarem características peculiares referentes ao seu temperamento diferenciado e às suas complexas responsabilidades fisiológicas, que são negativamente influenciados pelos excessivos estímulos de ordem sexual. A autora ainda relaciona a moderna e deturpada perspectiva sexual à inquietude, doenças emocionais e físicas, depressões e psicoses femininas, muito comuns em nossos dias.
A constante exacerbação e os impulsos sexuais doentios e mal canalizados geralmente produzem congestão dos órgãos sexuais, o que pode resultar em neurastenia (fraqueza) sexual, histeria e irritabilidade mental.
Segundo o Professor Hermógenes, a própria prática bem conduzida do yoga facilita o bom uso da energia sexual ou mesmo a sublimação. Em outras palavras, através do yoga é possível captar e armazenar quantidades maiores de energia prânica ou bioenergia, a qual se expressa como vigor biológico e espiritual ou como potência sexual, o que faculta transmudar a libido em poder espiritual ou ojas shakti.
Nesse contexto e na visão dos sábios, não se deve supervalorizar o sexo físico, que é, em última instância, um instrumento para as tarefas específicas da paternidade ou maternidade.

Brahmacharya e Alimentação
Como já foi dito, Gandhi praticava a castidade e afirmava que a alimentação poderia auxiliar nessa prática, referindo-se à importância e os benefícios do jejum. Ainda dizia ele: “o regime lácteo torna difícil a observância do voto de Brahmacharya. (...) Sabendo, embora, que o leite é em parte um estimulante, eu não aconselharia ninguém, no momento, a abster-se dele.”
Gandhi estudou a influência dos alimentos sobre a sexualidade, mas não encontrou nenhum alimento que, ao mesmo tempo, proporcionasse vitalidade sem estimular concomitantemente a libido.
Em relação à dieta, o sábio Sivananda argumentava que a dieta tem um papel importante para a manutenção do celibato. Ele aconselhava atenção especial ao que era ingerido, alertando que determinados alimentos, como carnes em geral (inclusive a de peixe), ovos, cebola e alho estimulam a sexualidade. Ele aconselhava uma dieta moderada e o consumo de alimentos sattvicos (puros, equilibrados), como leite, frutas e trigo e também a prática ocasional de jejuns, para controlar os sentidos ou faculdades mentais (Indriyas) e auxiliar na prática de celibato.
Considerações Finais
Como vimos até aqui, a nossa energia provém de uma fonte única e pode ser dirigida de forma construtiva ou ser desperdiçada. Assim, é interessante utilizarmos esse potencial energético com sabedoria e discernimento para vivermos felizes e contribuirmos para a felicidade alheia.
Percebe-se que a grande maioria da humanidade ainda não está em condição de viver nem a castidade, nem da prática do sexo somente com finalidade procriativa. Nos dias de hoje, em que por vezes prevalece o individualismo e um egoísta culto ao corpo, a procura pelo prazer ainda pesa muito para a imensa maioria.
Além disso, somos instigados o tempo todo a lembrar da prática do sexo (inclusive para nos compararmos aos outros, – a chamada “performance ideal” - pois até um instinto básico de sobrevivência foi transformado numa forma de competição), seja de forma sutil ou mais grosseira e direta, pois isso agrada de uma forma geral, e resulta em vultosos lucros para a mídia que atende aos anseios de uma sociedade marcada pelo hedonismo. Sexo é um produto vendável e lucrativo, pois hoje há um “culto ao prazer” generalizado. Com algumas exceções, o que a maioria procura hoje em dia é um prazer imediatista e egoísta, permeado em relacionamentos descartáveis, onde há uma inversão de valores: coisas são amadas e idolatradas e pessoas são usadas. E isso com certeza afeta de forma negativa a saúde física, mental e emocional dos indivíduos, pois estamos indo de encontro à nossa verdadeira essência, que é de amor, generosidade e benevolência. Respeito deveria ser a palavra-chave quando o assunto é sexo – respeito ao outro e respeito a si mesmo.
Vivendo uma sexualidade sadia podemos desfrutar de permanente vitalidade. Dessa forma, compensa organizar, em nossa vida, essa distribuição energética com racionalidade e bom senso para termos uma realidade feliz internamente e no contato com os outros.
Daí a importância da sexualidade equilibrada para uma vida saudável. Em caso contrário, causamos danos sérios ao nosso psiquismo e ao nosso organismo, pois já há estudos afirmando que há uma estreita ligação entre desajustes sexuais e doenças mentais.
Acredito que mesmo as pessoas que praticam sexo regularmente podem atingir um nível de, se não castidade, ao menos de maior pureza, desde que ambos os parceiros encontrem-se permeados pelo amor (a si mesmo e ao outro), passando de um ato meramente instintivo para um ato de união espiritual e energética.
Uma boa forma de começar seria valorizarmos os relacionamentos e a nós mesmos, associando o sexo ao amor genuíno e ao sentimento de respeito, engrandecendo o seu sentido de comunhão e união. Talvez esse seja uma das vias para o uso saudável da sexualidade humana, pois como escreveu J. Krishnamurti em seu texto “Sobre o Sexo” um alerta para a necessidade do amor: “(...) é por não existir amor que vocês transformam o sexo em um problema.” Para concluir, transcrevo uma frase da qual gosto muito, que diz: “A sublimação da afetividade se consegue gradativamente, através do cultivo do amor por tudo o que existe”. Não parece tarefa fácil, mas não custa tentar...

Namastê.
Maria Giovana Pegorer é estudante do curso de aperfeiçoamento e formação em Yoga do Núcleo de Estudos Yoga Natarája / Casa do Yogin e engenheira civil.

Referências Bibliográficas
ANDRADE FILHO, José Hermógenes de. Maithuna: Liturgia Sexual. Disponível em: <http:// www.yoga.pro.br> Acesso em: ago. 2008.
ANDRADE FILHO, José Hermógenes de. Saúde na Terceira Idade – Ser Jovem é uma Questão de Postura. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2004. 12ª edição. 413 p.
DE ROSE, André (Org.). O Livro de Ouro do Yoga. Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 2007. 400 p.
GANDHI, Mohandas Karamchand. Somos Todos Irmãos - Reflexões Autobiográficas. São Paulo: Editora Paulus, 1998.
HAICH, Elizabeth. Energia Sexual e Yoga-Tantra: A Canalização da Força Criadora Divina.


Nenhum comentário:

Postar um comentário