Vegetariano, ser ou não ser ...
Muitas
pessoas perguntam o porque ser vegetariano e o porque dos yogis adotarem esse
tipo de dieta...Nos Yamas, aprendemos que devemos respeitar todo tipo de vida, e que devemos respeitar
nosso planeta e não praticar nenhuma forma de violencia ( Ahimsa)...então ficamos
pensando e refletindo até onde comer animais está certo ou não...
Realmente
quando pensamos que temos somente quatro dentes caninos, diferente das feras,
que tem todos os dentes pontiagudos, já percebemos que pela nossa dentição devemos ter uma dieta
mais variada..
Mas o que acredito é que devemos trabalhar e comer de forma
correta para termos maior qualidade de vida ou seja uma vida cada vez mais saudável.
Eu pratico o ahimsa, a não violencia, e realmente sou
absolutamente contra a matança desenfreada de animais; ou a destruição das
matas para o plantio de pastagem; mas também sei que o nosso planeta ainda
precisa da carne para se nutrir e para dar conta de alimentar as 7 bilhões de
pessoas que aqui vivem.
Eu, já não como carne vermelha e não bebo leite ha 20 anos, me sinto melhor
fisicamente com isso, percebo que até o odor do meu corpo ficou melhor e que
também produzo menos muco do que produzia; isso sem comentar que a minha
digestão e prática de yoga ficou muito melhor com isso; mas nem por isso sou vegetariana...
Hoje em dia, não sou vegetariana, já tentei
ser vegetariana sim, mas realmente não pude permanecer assim, 1o porque
gosto de conviver com todos os tipos de pessoas, com minha família, gosto de
sair com amigos e percebi que se ficasse assim com uma dieta tão restritiva,
sem querer, acabava dificultando a vida
das pessoas; por exemplo quando era convidada a comer na casa de alguém era um
verdadeiro problema... e 2o porque fiquei tão anemica que não pude continuar
com uma dieta tão restritiva por ordens médicas, hoje faço complementação
alimentar com vitaminas e como ovos, peixes, frutos do mar e de vez em quando até uma ave.
Mas o que gosto mesmo de comer, e quando estou na minha casa
é o que faço e o que sinto que me faz bem; é uma dieta com muitas frutas,
legumes, verduras, grãos, queijos brancos e pães.
Acho que devemos ser saudáveis sim (não comendo frituras,
nem refrigerantes, nem muitos doces, nem carnes em excesso) e claro devemos
sempre comer com bom senso, afinal queremos estar sempre melhor.
Abaixo segue um texto que achei interessante a respeito, retirado do blog de Pedro Kupfer a
respeito disso;
Este texto tem o propósito de contextualizar a prática do
Yoga na cultura hindu, de maneira que a pergunta sobre o porque do
vegetarianismo possa ser devidamente respondida. Ao mesmo tempo, o presente
artigo pretende ser uma fonte de reflexão e recursos para aqueles que, havendo
incorporado algumas das práticas yogikas em suas vidas, se sintam curiosos ou
preparados para darem esse passo em relação à alimentação.
Escrito por Pedro Kupfer, http://www.yoga.pro.br
Antes de começar, uma palavra sobre o dharma
A tradição do Yoga hindu nos ensina que a realização
espiritual e a verdadeira felicidade somente são possíveis se nossos
pensamentos, sentimentos e ações estiverem em harmonia com a ordem universal,
chamada dharma.
A palavra dharma significa “aquilo que mantém unido”, e
refere-se não somente às leis naturais, mas igualmente à Força Consciente de
coesão e harmonia que gera e mantém o universo.
Tudo é harmonia no
universo.
Um exemplo óbvio dessa harmonia universal, que é expressão
do dharma, é que os planetas, cada um seguindo sua própria órbita, não se
chocam nunca.
Porém, o conceito de dharma admite uma outra interpretação
no plano humano. Nessa segunda interpretação, podemos afirmar que o dharma é um
grupo de valores, eternos e universais, através dos quais se estabelece uma
convivência harmoniosa na sociedade.
A palavra dharma também pode ser interpretada como “fazer a
coisa certa”. Nesse sentido,dharma é aquilo ao qual o homem se mantém fiel ao
longo da sua vida, o que pauta suas escolhas e ações.
Em suma, sua missão de vida ou seu propósito humano.
O dharma e o código yogiko de conduta
A compreensão plena do conceito de dharma é essencial para
podermos integrar em nossa vida os aspectos mais profundos da prática do Yoga,
pois ele está intrinsecamente ligado ao código de conduta yogika, chamado yama
e niyama.
Esse código de conduta é o fruto de um longo processo de
reflexão, discernimento e sensibilização que os yogis da antiguidade nos
legaram, e tem mais a ver com coerência, motivação e coordenação dos esforços
do praticante do que com repressão e controle, e sendo absolutamente essenciais
para podermos distinguir o certo do errado a cada momento.
Vou lhe contar um exemplo que ilustra perfeitamente a
diferença entre discernimento e repressão de que falei acima.
Meu amigo George
Porto Ferreira foi morar numa reserva ambiental em Rondônia, na Amazônia, como
técnico ambiental do IBAMA. Parte importante do seu trabalho é defender a mata
virgem através de ações contra as madeireiras que extraem ilegalmente árvores
da selva.
Um dos principais motivos do desmatamento, porém, é a
criação de novas áreas de pastagem para manutenção dos rebanhos bovinos que
serão usados como alimento pelo homem.
Recentemente, em uma de suas raras visitas a Florianópolis,
George me contou que tinha se dado conta de que não fazia nenhum sentido para
ele levantar a bandeira do ambientalismo se não assumisse definitivamente uma
dieta vegetariana.
Em suma, meu amigo
não decidiu tornar-se vegetariano porque alguém tenha proibido ele de comer
carne, mas porque simplesmente percebeu a incoerência entre o discurso
ambientalista e sua decisão na hora de escolher o alimento que punha no prato.
Se você come carne, não está unicamente se prejudicando com
um alimento de qualidade altamente duvidosa, ou colaborando com a matança de
milhões de animais usados como alimento: você está financiando o desmatamento
da Amazônia. Simples assim.
Quem, por um lado, discernir o certo do errado, e, por
outro, for capaz de colocar em prática o esforço para anular a distância que
separa a retórica da prática, é um yogi de verdade.
Não-violência, dharma e vegetarianismo
Voltemos ao código yogiko de conduta. Esse código existe
para facilitar a tarefa da realização espiritual. Sem ele, não há como
progredir na prática. Não obstante a importância desse código para o Yoga, hoje
em dia muitos praticantes sequer suspeitam da existência dele.
O esteio central do código yogiko é ahimsa, a prática da
não-violência. Você certamente já ouviu falar na não-violência, uma prática
yogika tão poderosa que, apenas aplicando-a, Mahatma Gandhi e os lutadores pela
independência da Índia foram capazes de libertar aquele país do jugo colonialista
inglês sem disparar um único tiro. Isso, por sua vez, nos mostra o infinito
poder transformador do Yoga.
O ahimsa, portanto, é um formidável instrumento para nos
mantermos harmonizados com o dharma.
Existem duas dimensões diferentes na prática da
não-violência, que estão intrinsecamente ligadas: uma pessoal e outra social. A
primeira tem a ver com a forma como a gente se relaciona consigo mesmo e com a
nossaprática pessoal de Yoga. A segunda tem a ver com a maneira em que vivemos
a vida em sociedade, com nossa família, nossos amigos, vizinhos ou colegas de
trabalho.
A segunda dimensão da não-violência, a social, depende
diretamente da primeira, assim como a unha está ligada à carne.Se os
praticantes de Yoga ficarem conscientes o tempo todo de ahimsa, haverá uma
transformação profunda na sociedade. Os shastras, textos tradicionais do Yoga,
convidam o praticante, como corolário natural da prática da não-violência, a
adotar uma dieta vegetariana.
Em sânscrito, vegetarianismo se diz shakaharah. Shakaharah
significa literalmente “comedor de vegetais” (shaka = vegetal). A pessoa não
vegetariana é chamada mamsaharah, que significa “comedor de carne” (mamsa =
carne). O Manudharmashastra, um texto de mais de 2.000 anos de antiguidade, dá
a seguinte explicação sobre a palavra mamsaharah, “comedor de carne”:
“Os sábios declaram que o significado da palavra mamsa
(carne) é [o seguinte]: “ele (sa) irá comer minha carne [na próxima encarnação]
se eu (mam) comer a dele agora”.
Portanto “mamsa” significa literalmente “eu + ele”. Isso nos
leva ao tema da unidade que existe na criação e à constatação de que, qualquer
coisa que fizermos contra a harmonia universal irá irremediavelmente nos
atingir no futuro.
Algumas razões para o praticante de Yoga se tornar vegetariano:
O vegetarianismo tem sido adotado maciçamente pelos
praticantes de Yoga desde milênios atrás, por três motivos:
1) o dharma e a ética ambiental,
2) a saúde e
3) o progresso espiritual.
Em relação ao primeiro ponto, vale lembrar o contexto da
experiência do George: considera-se comer carne um crime contra a lei
universal, porque isso significa participar, mesmo que indiretamente, em atos
de crueldade e violência contra o reino animal, mas também contra o meio
ambiente, quando somos coniventes com a destruição das florestas para fazer
pasto para engordar o gado. Se uma parte da extensão de terra fértil usada
atualmente para criar gado fosse utilizada para plantar cereais, o problema da
fome no mundo acabaria imediatamente.
Em relação à questão da saúde, está mais do que claro que
uma dieta rica em carnes é diretamente responsável por uma interminável série
de problemas de saúde, que vão desde a prisão de ventre até o câncer de cólon,
desde o mal de Parkinson até o mal da vaca louca, desde a halitose até
problemas cardíacos como o enfarte, que, aliás, é a principal causa de mortes
no mundo. Se continuarmos de olhos fechados para essas constatações gritantes,
continuaremos vivendo mal e morrendo cedo. O Uruguai, por exemplo, país onde o
consumo de carne vermelha é maciço, é recordista planetário em mortes por
câncer de cólon (em números relativos à população).
Em relação ao último ponto, o progresso espiritual, devo
dizer que nem todas as tradições espirituais do Oriente abraçaram o
vegetarianismo.
O Buddhismo tibetano, por exemplo, não menciona o assunto.
Isso acontece por dois motivos. Por um lado, o Tibet é um país íngreme, alto e
muito frio, onde não é possível para a maioria da população seguir uma dieta
vegetariana. Por outro lado, Buddha não quis colocar nenhuma restrição a seus
monges em relação à alimentação para evitar que eles se apegassem a uma dieta
ou deixassem de aceitar o alimento que lhes era dado como esmola.
De fato, o próprio Buddha morreu em decorrência de uma
intoxicação que adquiriu num jantar onde lhe foi servido porco, que ele não
rejeitou pela questão do desapego mencionada acima. Não obstante esses dois
motivos, e outros que poderíamos mencionar, o Dalai Lama recomenda aos
seguidores do Buddhismo tibetano a dieta vegetariana.
Excetuando-se o Buddhismo, todas as demais tradições
ascéticas da Índia são taxativas em relação à dieta vegetariana:hindus,
jainistas e parses aderem desde tempos imemoriais ao vegetarianismo como meio
para purificarem não apenas seus corpos mas igualmente suas mentes e corações.
Para o yogi consciente, devorar a carne de animais mortos é
um ato de barbárie que carrega consigo conseqüências kármicas muito
indesejáveis.
Considera-se como regra que, se o alimento foge de você
quando você estende sua mão para pegá-lo, você não deve comê-lo. Se estender
minha mão para pegar um frango com a intenção de matá-lo para comer, é natural
que ele fuja para proteger sua vida. Até mesmo animais com limitações de
locomoção como as ostras fugiriam de você se tivessem pernas e sentissem que
você está atrás delas para comê-las!
Por outro lado, o reino vegetal parece dar seus alimentos
sem demasiado sofrimento. Se estender minha mão em direção a um cajueiro para pegar
seus frutos, este generosamente permite que me alimente com eles. A árvore não
sofre, o alimento é bom e eu tenho direito de me beneficiar dele.
Por causa disso, considera-se que a dieta vegetariana esteja
em harmonia com o dharma.
A lista de razões para adotarmos o vegetarianismo não se
esgota aqui. Sugiro que o leitor amplie sua pesquisa lendo bons livros sobre o
assunto ou pesquisando na internet. Um bom começo é visitar o website da
Sociedade Vegetariana Internacional no Brasil: www.vegetarianismo.com.br
A transição para o vegetarianismo
Então, como implementar uma dieta vegetariana sem criar um
trauma em nossos hábitos? Existem duas opções. A primeira, radical, é
simplesmente parar da noite para o dia, após haver refletido e amadurecido a
idéia por tempo suficiente como para não se arrepender da decisão ao primeiro
convite para o churrasco do próximo domingo.
A segunda, mais adequada para muita gente, é implementar uma
série de mudanças graduais nos hábitos alimentares e começar a entrar com mais
regularidade na cozinha para escolher e preparar o próprio alimento. Ambas as
opções exigem planejamento, pesquisa, bom senso e, principalmente, uma mudança
de visão em relação ao que significa realmente alimentar-se.
É preciso ter muita coragem para combater o preconceito e os
hábitos sociais arraigados. Um vegetariano recente pode ouvir comentários como
estes, da parte de seus amigos ou família: “Então você virou vegetariano? Você
está comendo só grama?” “Mas essa canja tem pouquinha galinha. Você não vai
comer mesmo assim?” Se você não mantiver o foco em seu propósito, a pressão
social ou a familiar podem fazer fracassar seu plano.
Pessoalmente, parei de comer carnes e ovos há mais de vinte
anos. Em verdade, já havia tomado a decisão no momento em que tive meu primeiro
contato com o Yoga, há mais de vinte e cinco anos. Porém, quando anunciei para
a minha mãe, desde o alto dos meus treze anos de idade, que havia decidido
parar de comer carnes, ela simplesmente me deu uma bofetada e disse: “Se você
acha que vou cozinhar especialmente para você sem carne, está redondamente
enganado”. O assunto morreu aí mesmo, mas eu não desisti. Hoje em dia, minha
mãe adotou a dieta vegetariana e ajuda muita gente que quer parar de comer
carnes.
Não fui bem sucedido naquela primeira tentativa por causa da
minha situação de dependência familiar. No entanto, o tempo passou e, quando
tornei-me independente e comecei a morar sozinho, consegui finalmente realizar
esse objetivo. Devo dizer que não me custou nada parar com as carnes e os ovos,
pois minha motivação em relação à prática era muito forte e, depois que você
desenvolve uma certa sensibilidade através da meditação, os mantras e as
práticas mais sutis do Yoga, o vegetarianismo torna-se uma necessidade.
Definição de vegetarianismo no contexto do Yoga
Por vegetarianismo, entende-se aqui a dieta alimentar que
exclui quaisquer tipos de carne, seja de vaca, ovelha, porco e outros
mamíferos, mas igualmente a das aves, peixes e “frutos do mar”. Os ovos
tampouco fazem parte da dieta vegetariana do Yoga, pois se considera o ovo um
tipo de carne líquida.
Mesmo se formos considerar o ovo não galado, ele não faz
parte da dieta simplesmente por uma razão de higiene: ovos não galados são
menstruação de galinha e, de modo geral, os yogis não se sentem muito
confortáveis alimentando-se da descarga menstrual dos simpáticos bípedes.
Aliás, uma pergunta que nenhum ovo-vegetariano me respondeu satisfatoriamente
até hoje é a seguinte: qual é a diferença entre comer os ovos de uma galinha e
os ovos de um peixe ou de uma tartaruga? Se você come omelete ou bolo com ovos,
porque torce o nariz para o caviar?
Por outro lado, a dieta vegetariana tradicional recomendada
nas escrituras admite o consumo de leite e seus derivados. É por isso que esta
dieta é chamada lacto-vegetarianismo. Os derivados do leite usados na Índia,
sejam de vaca ou búfala, são os seguintes: panir, ou queijo fresco, coalhada,
iogurte, manteiga e ghi, ou manteiga clarificada. Esses são produtos de fácil
digestão para a maioria das pessoas, embora haja gente com intolerância a
lactose que deve evitar todos os tipos de laticínios.
Na Índia não existem os queijos amarelos, curados ou
gordurosos desenvolvidos na Europa e trazidos para o Brasil pelos imigrantes
italianos e alemães. Na medida do possível, o yogi precisa evitar esses
queijos, pois contêm um excesso de gordura saturada e são de difícil digestão,
provocando um excesso de mucosidade que é extremamente prejudicial para a
prática do pranayama e os exercícios de purificação, dentre outros. De resto,
provindo do reino vegetal, vale absolutamente tudo.
Afora a dieta lacto-vegetariana adotada pelos yogis, existe
outra opção alimentar, o veganismo, que exclui não somente as carnes mas
igualmente todo alimento de origem animal, como os laticínios e o mel. O
veganismo leva até as últimas conseqüências a preocupação ética em relação ao
tratamento que os animais recebem das indústrias alimentar e do vestuário,
eliminando sumariamente não apenas os alimentos de origem animal mas também
quaisquer artigos de couro ou outros sub-produtos da mesma origem.
É bom lembrarmos que essa iniciativa nasceu igualmente na
Índia, onde artigos feitos de couro como roupas, sapatos, cintos e outros
acessórios nunca foram usados por praticantes sérios de Yoga.
Vegetarianismo e Ayurveda
Uma coisa interessante na hora de escolher o alimento e o
tempero que se usa para dar sabor às refeições é observar se esse alimento e
esse tempero estão de acordo com nosso biotipo individual. Esse biotipo
individual chama-se dosha, em sânscrito.
O Ayurveda, a ciência indiana de manutenção da saúde,
recomenda uma série de alimentos para cada biotipo. Nem todos os alimentos
considerados bons são bons para todos nós. Você já se perguntou por que, quando
duas pessoas comem exatamente a mesma coisa, uma delas digere o alimento com
facilidade e a outra não? O Ayurveda responde essa pergunta e muitas outras que
possam surgir ao longo do processo de tornar-se vegetariano, indicando os
alimentos mais adequados para cada tipo de constituição individual.
Se você não escolher corretamente seu alimento, não
conseguirá digeri-lo bem e vai achar que a dieta vegetariana só dá gases, ou
que ser vegetariano não é uma boa opção para você.
Se o amigo leitor quiser ampliar sua pesquisa a esse
respeito, existem algumas dietas recomendadas para os diferentes
doshasdisponíveis em www.yoga.pro.br. Não obstante, para escolher com
propriedade uma dieta, é preciso conhecer primeiramente seu biotipo fazendo um
teste rápido que pode ser achado usando o mecanismo de pesquisa desse website.
Ser yogi = ser vegetariano?
Existem yogis atualmente que, por diferentes motivos, não
aderem à dieta vegetariana. Esses praticantes podem apresentar situações peculiares
de saúde, ou manter condicionamentos que lhes impedem de assumir o
vegetarianismo de maneira plena, ou simplesmente não darem ao vegetarianismo a
importância que ele merece na tradição.
Pessoalmente, acredito que essas pessoas têm pleno direito
de agirem conforme suas próprias consciências.
O aparente paradoxo que pode surgir do confronto dessas
afirmações com o resto deste texto resolve-se no foro íntimo de cada um.
Em suma, adotarmos ou não o vegetarianismo é uma questão de
ética, sensibilidade, desapego e preparo.
Um dos grandes perigos que tenho visto em relação a isso no
pequeno mundo do Yoga é que algumas pessoas se acham no direito de julgarem os
demais em função do que elas comem, como se ser vegetariano fosse garantia e
elevação espiritual e não o ser fosse sinal do contrário.
Nunca foi correto julgar alguém em função do que a pessoa
põe no prato.
Adolf Hitler, por exemplo, era vegetariano. Eu não colocaria
esse assassino psicopata na categoria das pessoas espiritualmente elevadas. O
Dalai Lama, embora já tenha mantido durante um tempo a dieta vegetariana, come
carne ocasionalmente por indicação médica. Eu não diria que ele tem uma
estatura espiritual pequena.
Portanto, adotar o vegetarianismo pode ajudar, mas não é
sinal de realização espiritual. Assim como não existe um teste que possa ser
aplicado ao ser humano para determinar seu grau de espiritualidade, tampouco
podemos considerar que a adoção de uma determinada dieta signifique alguma
coisa em termos de progresso espiritual.
Se você for trocar seus condicionamentos atuais por outros,
como a tendência a julgar os demais pela dieta ou a se considerar superior pelo
fato de ser vegetariano, é melhor que continue comendo carne até resolver seus
problemas de fundo.
Em suma, se a prática do Yoga não estiver nos ajudando a
sermos pessoas melhor resolvidas, mais felizes e legais, isso pode ser sinal de
que não estamos praticando com a atitude correta, de mente equânime e coração
aberto. O melhor é fazermos nossa prática sem julgar a dos demais.
Texto originalmente publicado na edição nº 06, do Outono de
2005, do periódico trimestral Cadernos de Yoga e republicado em www.yoga.pro.br
Pedro Kupfer nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1966.
Descobriu o Yoga aos 16 anos de idade, e pratica, aprende, estuda e ensina
desde então. Estabeleceu o primeiro contato com essa cultura através de um
workshop intensivo em 1983 com a professora indiana Svami Yogashakti,
discípula de Svami Satyananda. Continuou praticando com os professores do
Satyananda Niketan, em Montevidéu, até se mudar para o Brasil em 1986.
Considera o Yoga mais como uma forma de vida do que uma atividade que
simplesmente se faz dentro de uma sala. Pedro escreveu e traduziu vários livros
sobre Yoga, além de integrar o Conselho Editorial das revistas Cadernos de
Yogae Yoga Journal e editar o website yoga.pro.br, veículos especializados
nessa cultura. Fez várias viagens de estudos à Índia e a outros países do
Oriente e, atualmente, mora na praia de Mariscal, em Santa Catarina, onde
ministra Cursos de Formação em Yoga no Espaço Yogabindu, e é também Presidente
do Conselho Técnico da Aliança do Yoga. Quando não está viajando, ensinando ou
praticando, gosta de cantar, surfar e cozinhar. Conheça mais o trabalho do
Pedro em seu website, www.yoga.pro.br
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